Lembranças-Presentes
Rio
Preto, cidade onde eu morava até o fim da década de 40, era uma
pequena cidade do interior de Minas Gerais. Analfabeta, eu não sabia
muito das coisas. Estudar era para poucas pessoas e eu não era uma
delas. Era pobre, tinha 7 irmãos e era a mais velha. Não tinha
tempo para estudar, mesmo que eu quisesse, pois tinha que acordar às
quatro horas da manhã, para buscar lenha.
Minha
infância não foi muito boa, mas também não foi muito ruim.
Brincava de pique, nadava nos riachos, brincava de esconder, entre
outras maravilhosas brincadeiras. Contudo, eu tinha que ser muito
responsável, porque além de buscar lenha, tinha que cuidar da casa,
fazer comida e cuidar de meus irmãos. Minha mãe era muito doente,
por isso ela me ensinou tudo o que sabia, até a fazer sabão.
Meu
pai vivia trabalhando. Mas quando dava a época da Folia de Reis, ele
vestia sua fantasia e sumia. Quando voltava, chegava cheio de
brincos, dinheiro e outras coisinhas que ganhava dos outros enquanto
ficava fazendo suas palhaçadas. Meu pai era um homem divertido.
Trabalhava na fábrica de manteiga de nossa cidade. Eu, meus irmãos,
minha mãe e meu pai éramos uma família muito unida e vivíamos
felizes.
Quando
fiz 17 anos, comecei a trabalhar na casa de um dono de uma
empreiteira como empregada doméstica. Meu patrão era muito bom e
confiava muito em mim. Um dia, meu patrão me disse que sua
empreiteira teria que mudar de Rio Preto para uma cidade que estava
surgindo no interior do Rio de Janeiro, a famosa Volta Redonda.
Naquela época, muito se falava desta cidade. Todos queriam mudar de
vida. E Volta Redonda era a esperança de muita gente. Pensei
bastante na proposta de meu patrão. Conversei com meus pais e,
contrariando a vontade deles, decidi ir com a empreiteira para Volta
Redonda.
Quando
cheguei aqui, vi vários homens construindo uma siderúrgica enorme,
a CSN, e fiquei até sem fôlego pelo seu tamanho. Nunca tinha visto
algo tão grande assim. No início, morava na casa de meu patrão
mesmo. Mas, depois de algum tempo na cidade dos sonhos, conheci um
homem de pele escura, alto e bonito que trabalhava como músico na
banda da CSN e como bombeiro na tal siderúrgica. Ele se chamava
Júlio Camilo. Comecei a namorar com ele. Até que um belo dia, ele
me pediu em casamento. Naquela época, não se namorava muito, logo
se casava. Fomos visitar meus pais, para que Júlio pudesse pedir a
minha mão. Assim foi consentido. Quando voltamos, conversei com o
meu patrão dizendo que eu iria me casar e estava pensando em largar
a sua empreiteira. Passou um tempo, eu parei de trabalhar e me casei.
Foi
o dia mais feliz da minha vida. Casei-me em uma igreja nova da
cidade, chamada Nossa Senhora da Conceição. Depois vim morar num
bairro perto da siderúrgica, numa casa linda. Na época, a CSN
estava dando casa para quem tinha um bom cargo e estava para se
casar. Esse bairro se chamava Conforto. As casas foram construídas
para quem trabalhava na CSN. O bairro foi bem projetado. Era muito
bom, calmo e seguro. E nesta casa linda, tive nove filhos e, como
tinha largado a empreiteira, comecei a lavar roupa do pessoal do
bairro, para ajudar nas despesas da casa. À medida que nossos filhos
cresciam, meu marido foi colocando eles para estudar em bons
colégios, para serem alguém na vida.
O
tempo foi passando e meus pais vieram morar conosco. Éramos uma
família unida e feliz. Até que Deus foi chamando um a um para a sua
morada, meu pai e minha mãe. E assim nossos filhos foram crescendo.
E nesse meio tempo, meu marido também partiu para junto de Deus. A
dor da partida ... Ah,... É difícil de descrever, só sentindo
mesmo. Mas como Deus me deu filhos, fortaleci-me neles. Pois depois
vieram os netos. Ah, quanta alegria!!!
Moro
até hoje no bairro Conforto, mas em outra casa com meus filhos e
netos. Se algo de minha história posso deixar como legado, deixo
todos os momentos que vivi. Pois foram momentos vividos intensamente
e que jamais sairão da lembrança. Lembranças que começaram em Rio
Preto, lembranças que recomeçaram em Volta Redonda. Lembranças
passadas... não sei. Quando me lembro de tudo que vivi, sinto as
mesmas emoções de outros tempos. Parecem mais
"Lembranças-Presentes"...
Matheus Camilo Silva
Damaciano
3 comentários:
Maneeeeeeero !
Aluna : Donna' .. Themis !
sempre gostei de escrever redações,porque nelas podemos escrever o que pensamos e soltar nossa mente e deixar fluir,Matheus Camilo parabéns por ter tido sua redação pŕemiada.
Matheus Camilo meu amigo, como sempre arrebentando eu realmente me emocionei com sua história amigo continue assim sendo esse menino com que voce é .
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